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Foto do escritorEduarda Bispo

Pequeno Manual Antirracista

Atualizado: 5 de mar. de 2023

O objetivo deste pequeno manual é apresentar alguns caminhos de reflexão.

Podemos iniciar com a definição genérica que é relatada às crianças logo cedo de que os negros foram escravizados, e mais, a vida anterior é simplesmente omitida. Os negros foram acusados de serem passivos ante a escravidão. A princesa Isabel é exaltada como uma redentora aos negros. Uma perspectiva unilateral. Segundo Djamila, é apropriado que se troque o termo “a população negra era escravizada” por “a população negra foi escravizada” para desvincular a conotação de condição natural e assim fica mais intuitivamente compreensível que a escravização fez parte de um dado período da história.


Para a autora refletir sobre aspectos ignorados pela maioria da população é uma experiência complexa e dinâmica, pois seu pai Joaquim José Ribeiro dos Santos, ativista do movimento negro, que ajudou a fundar o Movimento Comunista em Santos, sempre debateu sobre isso em casa, o que proporcionou profundas reflexões em relação a si e o mundo. Djamila introduz o tema no livro com a definição de racismo no Brasil como um debate estrutural e a necessidade da contextualização histórica de escravidão e racismo, considerando seus frutos.


Enquanto a Constituição do Império de 1824 definia a educação como direito do cidadão, as pessoas negras escravizadas não foram consideradas ao menos cidadãs naquele cenário, já que o que valia neste contexto eram suas posses e rendimentos. A Lei de Terras de 1850 também foi um movimento mercadológico de segregação onde para ser proprietário de terras era necessário utilizar de recursos indisponíveis para pessoas ex-escravizadas. É perceptível na história do Brasil a construção de uma cultura que segrega e desprestigia tudo que se relaciona ao negro após a escravidão.


O sistema escravocrata no Brasil revela peculiaridades que remetem à necessidade de análises mais profundas em se tratando de classificação de impacto, pois o contexto é ímpar à outras geolocalização, visto que a história foi escrita e multiplicada por uma perspectiva unilateral. Enquanto paralelamente o racismo como estrutura basilar do relacionamento social pauta de movimentos de pessoas negras há anos. Assim Djamila define o racismo como “um sistema de opressão que nega direitos, e não um simples ato de vontade de um indivíduo”.


O contexto é tão profundo e de tamanha complexidade que o objetivo da autora é amparar aquele que se permite descobrir a realidade com o convite de urgência à mudança de comportamento através da prática antirracista por meio de atitudes no cotidiano. Percebe-se no primeiro momento a necessidade de não rotular a si como racista ou não e substituir pela indagação de o que se faz “ativamente para combater o racismo”, todavia a autora ainda destaca a existência de outros grupos sociais em que a opressão estrutural também faz vítimas.


Djamila Ribeiro expõe sua intenção de “apresentar alguns caminhos de reflexão [...] para quem quiser aprofundar sua percepção de discriminações estruturais e assumir a responsabilidade pela transformação de nossa sociedade” através da obra o Pequeno Manual Antirracista.


Referências

RIBEIRO, Djamila. Pequeno Manual Antirracista. São Paulo. Companhia das Letras, 2019.

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